Um renomado periódico espanhol referiu-se recentemente a Zygmunt Bauman (1927) como um dos poucos sociólogos contemporâneos "nos quais ainda se encontram idéias". Opinião semelhante é frequentemente exposta por críticos de várias partes do mundo quando refletem sobre o pensamento desse intelectual polonês radicado na Inglaterra desde 1971 e empenhado, há meio século, em "traduzir o mundo em textos", como diz um deles.
Indiferente às fronteiras disciplinares, Bauman é um dos líderes da chamada "sociologia humanística". De um lado, não se encontram em suas obras abstrações ou análises e levantamentos estatísticos, e, de outro, são ali aproveitadas quaisquer idéias e abordagens que possam ajudá-lo na tarefa de compreender a complexidade e diversidade da vida humana. Essa é uma das razões pelas quais Bauman tem muito a dizer para uma gama de leitores muito maior do que normalmente se espera de um trabalho de sociologia mais convencional, o que condiz com suas próprias ambições de atingir um público composto de pessoas comuns "se esforçando por ser humanas" num mundo mais e mais desumano. Como ele gosta de insistir, seu objetivo é mostrar a seus leitores que o mundo pode ser diferente e melhor do que é.
Autor prolífico e de renome internacional, pode-se dizer que sua fama e prolixidade aumentaram significativamente após sua aposentadoria, em 1990: 16 de seus 25 livros foram publicados após essa data e cinco obras dedicadas ao estudo de seu pensamento foram escritas nos últimos anos.
Descrito certa vez como "profeta da pós-modernidade" (com o que não concorda), por suas reflexões sobre as condições do mundo da "modernidade líquida", os temas abordados por Bauman tendem a ser amplos, variados e especialmente focalizados na vida cotidiana dos homens e mulheres comuns. Holocausto, globalização, sociedade de consumo, amor, comunidade, individualidade são algumas das questões de que trata, sempre salientando a dimensão ética e humanitária que deve nortear tudo o que diz respeito à condição humana. Preocupado com a sina dos oprimidos, Bauman é uma das vozes a permanentemente questionar a ação dos governos neoliberais que dão amplo apoio às forças do mercado ao mesmo tempo em que abdicam da responsabilidade de promover a justiça social.
Nascido na Posnânia em 1925, Bauman escapou dos horrores do Holocausto que aguardavam os judeus poloneses na Segunda Guerra, ao fugir com sua família para a Rússia em 1939. De lá voltou após a guerra, quando se filiou ao Partido Comunista, estudou na Universidade de Varsóvia e conheceu Janina, com quem está casado há 55 anos e com quem teve três filhas: Anna (matemática), Lydia (pintora) e Irena (arquiteta).
Confiantes e animados pelo sonho de criar uma sociedade mais justa e igualitária, Zygmunt e Janina ali estiveram a construir suas carreiras (ele como professor da Universidade de Varsóvia e, ela, como editora de enredos cinematográficos) e criar sua família, até que uma nova onda de anti-semitismo e repressão esmagou os seus sonhos e os forçou ao exílio. Após três anos em Israel, o convite a Bauman para ser chefe do departamento de sociologia da Universidade de Leeds os trouxe à Inglaterra, onde permanecem até hoje.
Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke (Folha de S.Paulo)
Zygmunt Bauman «Fronteiras do Pensamento»
Fonte: Fronteiras do Pensamento em youtube.com
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Zygmunt Bauman em wikipedia.org
Fronteiras do Pensamento
Folha de S.Paulo